A imagem do rio inesgotável que passa e permanece, refletindo um Heráclito inconstante , sempre outro e o mesmo, está talvez na raiz desta coletânea. Os motivos do duplo, do tempo e da alteridade são constantes do fluxo intermitente e simbólico em que se transformou a emoção poética para Borges ao longo dos anos - a qual desapareceu para ressurgir em seguida -, reafirmando a vocação do escritor que se considerava sobretudo um poeta. O título serviu-lhe primeiro para designar uma seção da Obra poética, republicada com muitos acréscimos em 1964, depois de longo silêncio, quando de fato a poesia parecia ter se esgotado. Mas logo se viu que não, e a expressão passou a designar quase toda a produção lírica de meados de sua vida, revelando em plena forma a maturidade de um poeta que fora um dos fundadores da tradição moderna da poesia hispano-americana, desde os tempos da vanguarda ultraísta do início do século XX. O leitor terá a surpresa e o prazer de compartilhar a emoção contida de breves composições limadas com todo o esmero - O instante , Espinosa , Everness , Sarmiento - e também a de grandes e complexos poemas como Limites , O Golem , Poema conjectural , e sentirá a habilidade de Borges em nos mergulhar no vasto e infindável rio de tempo, memória e esquecimento, de que é feita nossa curta existência e a mais perdurável matéria da poesia. Aí está Buenos Aires. O tempo, que a outros homens traz ouro ou traz amor, em mim apenas funda esta rosa amortecida, esta vã barafunda de ruas que repetem os pretéritos nomes de meu sangue: Laprida, Cabrera, Soler, Suarez... de A noite cíclica
Peso: | 297 g. |
Páginas: | 232 |
ISBN: | 9788535915792 |
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